Saúde pública

Número de médicos por habitantes em Pelotas é o dobro da média nacional

Enquanto levantamento indica 2,6 a cada mil habitantes no Brasil, índice de profissionais ativos no Município é de 5,32 por mil

Foto: Rovena Rosa - Agência Brasil - Apesar disso, é frequente a reclamação de falta de médicos em UBSs

O Brasil nunca teve tantos médicos em atividade. Mais precisamente, são 562.229 profissionais, o que significa 2,6 para cada mil habitantes. Desde o ano 2000, o número de médicos no País mais que dobrou, enquanto a população aumentou apenas 27%. Em Pelotas, o índice é ainda maior: segundo o Conselho Regional de Medicina (Cremers), são 1.724 médicos ativos, o que resulta numa proporção de 5,32 para cada mil moradores do Município. Número que inclui os que atendem na rede pública e privada.

Os dados nacionais fazem parte da Demografia Médica no Brasil 2023, produzida pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB). E eles vão além, indicando ainda uma projeção de que o País chegue a mais de um milhão de médicos até 2035. Caso isso se confirme, a proporção saltaria para 4,43 a cada mil habitantes.

Apesar destes números, a realidade mostra um contraste entre a quantidade de profissionais e o atendimento que os cidadãos têm à disposição. Em grande parte das cidades brasileiras, as populações penam para ter acesso a médicos, especialmente nas unidades de saúde pela rede pública. Problema comum em Pelotas, inclusive, onde são comuns queixas de moradores que não conseguem consultas nas UBSs de seus bairros. Ou, mais recentemente, com o problema da falta de anestesistas no Hospital Escola da UFPel que tem resultado no cancelamento ou adiamento de cirurgias.

Déficit reduzido, mas persistente
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a rede de Atenção Básica de Pelotas, composta por 50 UBSs, enfrenta atualmente um déficit de dez médicos. Número que vem reduzindo nos últimos meses. Em janeiro, faltavam 15 profissionais nos postos. No ano passado, o número chegou a ser de 26. Os dados do Município indicam 94 médicos vinculados a pelo menos uma equipe de saúde destes locais. O que, ainda de acordo com a SMS, faria com que hoje somente a UBS Cascata, na zona rural, esteja completamente desatendida por estes profissionais.

> Prefeitura de Pelotas reduz déficit de médicos em 60%

Além da Atenção Primária, Pelotas tem 119 médicos no Pronto-Socorro e 30 na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Areal. Somando toda a rede pública municipal, portanto, são 243 os médicos. Ou seja, um para cada 1.333 habitantes, se levada em conta projeção populacional mais recente, da prévia do Censo de 2022.

A Prefeitura projeta preencher todas as vagas existentes ainda em março, apostando em medidas de atração dos profissionais como o aumento dos valores pagos pela hora trabalhada.

Universidades formam, mas profissionais não ficam

Em Pelotas, as universidades Federal (UFPel) e Católica (UCPel) formam, anualmente, mais de 200 médicos, além de outros cem que concluem alguma especialização.

A UFPel oferta, gratuitamente, 106 vagas por ano, formando cerca de 50 profissionais a cada turma. Além disso, são 40 vagas de residência médica nas especialidades de clínica médica, cirurgia, endocrinologia, pediatria, ginecologia e obstetrícia, médico de família e psiquiatria.

Já a UCPel tem 180 vagas anuais e outras 56 para residência médica em cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia, clínica médica, medicina de família e comunidade, medicina intensiva, medicina intensiva pediátrica, nefrologia, neonatologia e pediatria.

Diretora da Faculdade de Medicina, Psicologia e Terapia Ocupacional (Famed) da UFPel, Julieta Fripp avalia que é necessário investimento federal para valorizar e tornar o serviço público mais atrativo para os médicos, especialmente na atenção primária, que costuma ser a porta de entrada para o atendimento nos municípios e, ao mesmo tempo, é um dos pontos mais frágeis dessa cadeia da saúde.

"Se não remunera bem, a tendência é que esses profissionais procurem outros locais para atuar", diz. E completa: "muitos profissionais buscam a atuação na atenção primária de forma temporária e, em paralelo, constroem alternativas de atividade profissional, incluindo iniciativa privada, hospitais. A atenção primária acaba sendo um lugar de transição".

Dificuldade é generalizada

Para o presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems-RS), Guilherme Ribas, que também é secretário de Saúde de Santa Maria, as administrações continuam enfrentando dificuldade para contratar médicos, apesar de a maioria das cidades terem aderido aos programas Mais Médicos e Médicos Pelo Brasil.

"[Os programas] não têm conseguido dar conta desse déficit e os municípios acabam contratando profissionais com recurso próprio. Mesmo assim, sofrem com a rotatividade e a falta de interesse de se manterem em municípios do interior ou em áreas rurais, mesmo com ofertas de ótimos salários", argumenta. Segundo Ribas, a expectativa das Prefeituras é por novos modelos de contrato nestas iniciativas federais, começando pelo chamamento de médicos brasileiros e avançando para a busca por estrangeiros.

Médicos reclamam de condições de trabalho e remuneração

Na avaliação do presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), a causa da escassez de médicos na rede pública dos municípios é a falta de condições para o trabalho. "Não está faltando médico no mercado, estão faltando coisas que são básicas: condições de trabalho, segurança no contrato e remuneração adequada", diz Marcos Rovinski. Ele cita as dificuldades enfrentadas no HE/UFPel e na atenção básica de Pelotas, referindo-se a ambos como provocados por má gestão e remuneração.

Rovinski vai além e diz que o desinteresse dos profissionais pelo serviço público é explicado pela ausência de contratos adequados nos municípios. "Não existe um plano de carreira como, por exemplo, o Ministério Público ou Poder Judiciário. O juiz ou promotor público sabe que ele vai para o pequeno município, mas tem condição de trabalho, tem remuneração, tem segurança, sabe que dali algum tempo ele pode ser removido para outro lugar."

TAXA DE MÉDICOS (por mil habitantes)

Brasil - 562.229 profissionais / 2,60
Região Sul (RS, SC e PR) - 89.734 profissionais / 2,94
Pelotas - 1.724 profissionais / 5,32​

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